Meu nome é Rosa, tenho 62 anos, e durante 35 anos trabalhei como auxiliar administrativa numa empresa de contabilidade aqui em Curitiba. Quando me aposentei aos 60, achei que ia curtir a vida descansando, viajando, cuidando dos netos, mas em poucos meses me vi entediada e sem propósito. Foi quando encontrei num armário velho as agulhas de crochê da minha mãe e decidi retomar aquele hobby de infância. Nunca imaginei que esse reencontro com as linhas ia mudar completamente minha vida e me dar uma nova carreira justamente na fase que todo mundo acha que a gente tem que parar.
Como o crochê voltou para minha vida?
Nos primeiros meses de aposentadoria, acordava sem ter o que fazer e isso me deixava angustiada. Meus filhos trabalhavam, meu marido ainda não tinha se aposentado, e eu ficava sozinha em casa vendo o tempo passar. Um dia, mexendo no armário do quarto de hóspedes, achei uma caixinha de costura da minha mãe com agulhas de crochê que ela usava antes de falecer. Aquilo mexeu comigo de um jeito que não esperava.
Peguei as agulhas, comprei umas linhas no centro da cidade e comecei a fazer uns tapetes simples, só para ocupar as mãos. Postei uma foto no grupo da família no WhatsApp e minha sobrinha pediu se eu podia fazer um para ela. Depois foi uma amiga, outra, e quando vi estava fazendo encomendas toda semana. O boca a boca funcionou e em seis meses eu tinha uma carteira de clientes fixos que me procuravam para fazer peças personalizadas.
Que peças faço e como transformei isso em renda?
Comecei fazendo coisas simples como tapetes e descansos de panela, mas logo percebi que as pessoas queriam peças mais elaboradas e estavam dispostas a pagar bem por trabalho artesanal de qualidade. Fui estudando pela internet, vendo vídeos no YouTube, entrando em grupos de crochê no Facebook, e fui aprimorando minha técnica. Hoje trabalho principalmente com encomendas sob medida.
Minhas peças mais vendidas são toalhas de mesa, mantas para sofá, jogos americanos, almofadas decorativas e bolsas de crochê. O carro-chefe são os conjuntos de cozinha completos, com toalhas de fogão, capas para eletrodomésticos e panos de prato decorados. Cobro entre 80 e 500 reais por peça, dependendo do tamanho e da complexidade. No mês passado faturei 2.800 reais só com crochê, mais do que minha aposentadoria. Hoje tenho encomendas agendadas para os próximos três meses.
Como fazer um porta-copos em crochê passo a passo?
Vou ensinar uma peça básica que vende super bem e é perfeita para quem tá começando a vender. O porta-copos redondo é rápido de fazer, gasta pouca linha e dá para cobrar entre 15 e 20 reais o jogo com quatro unidades. É uma das primeiras coisas que ensino para as alunas que querem começar a ganhar dinheiro com crochê, porque o retorno é rápido e o cliente sempre volta para pedir mais.
Siga este passo a passo que ensino para minhas alunas:
- Materiais necessários: linha de algodão número 6 ou 8 na cor de sua preferência, agulha de crochê tamanho 1.75mm ou 2.0mm, tesoura e agulha de tapeçaria
- Anel mágico: comece fazendo um anel mágico e trabalhe 12 pontos altos dentro dele, puxe bem a ponta para fechar o centro e finalize com ponto baixíssimo no primeiro ponto alto
- Segunda carreira: faça 2 correntes para subir, depois faça 2 pontos altos em cada ponto da carreira anterior, totalizando 24 pontos, finalize com ponto baixíssimo
- Terceira carreira: faça 2 correntes, depois alterne fazendo 1 ponto alto no primeiro ponto e 2 pontos altos no segundo ponto, repita essa sequência até o final, totalizando 36 pontos
- Quarta carreira: faça apenas pontos baixos em toda a volta para criar uma borda firme, finalize com ponto baixíssimo
- Acabamento final: corte a linha deixando uns 10cm de sobra, passe a ponta pela agulha de tapeçaria e esconda por dentro dos pontos da última carreira, está pronto seu porta-copos
O que mudou na minha vida depois dessa descoberta?
Além do dinheiro extra que faz uma diferença enorme no orçamento, o crochê me devolveu a sensação de ser útil e produtiva. Acordo todo dia animada para trabalhar nas minhas encomendas, converso com clientes, posto fotos no Instagram que criei, e me sinto parte ativa da sociedade de novo. Conheci outras artesãs da minha idade que também trabalham com crochê e formamos um grupo de apoio bem legal.
O maior erro que cometi no começo foi cobrar muito barato, porque tinha vergonha de pedir o valor justo pelo meu trabalho. Achava que por ser aposentada não podia cobrar como uma profissional de verdade. Depois que fiz umas contas e vi quanto tempo e material eu gastava, comecei a valorizar meu trabalho e cobrar preços justos. Hoje tenho orgulho de dizer que sou artesã, que tenho uma profissão, e que aos 62 anos estou construindo uma carreira linda que pretendo levar por muitos anos ainda.
