Em 2025, é possível perceber uma mudança significativa na forma como adolescentes brasileiros interagem e constroem relações de amizade. Além dos colegas que fazem na escola, nos campeonatos de futebol da praça, nas rodas de conversa durante o intervalo ou nas atividades extracurriculares, muitos jovens passaram a incluir robôs com inteligência artificial na lista de “amigos” com quem compartilham momentos e interesses. Esse fenômeno, que não se resume apenas à curiosidade diante da tecnologia, revela um novo padrão de comportamento social nas gerações completamente conectadas, inclusive desde as regiões mais quentes e vibrantes do Nordeste até o Sul, onde os encontros podem acontecer à sombra de araucárias ou nas tardes de verão em meio à mata atlântica.
Segundo levantamento recente da organização Common Sense Media, mais da metade dos jovens nos Estados Unidos (e fenômeno semelhante começa a ser observado no Brasil) mantém contato frequente com bots de IA. Nesses ambientes digitais, seja no celular durante uma tarde quente no quintal, na lan house da vizinhança ou no ônibus a caminho da escola, adolescentes trocam mensagens, jogam, praticam habilidades sociais e até dividem questões pessoais quase como se conversassem com um amigo da vizinhança. O que chama atenção nesse cenário é que um em cada três pesquisados relatou preferir se comunicar com inteligências artificiais do que com pessoas de sua convivência direta.

Quais impactos a amizade com inteligências artificiais pode trazer para adolescentes?
Especialistas em comportamento juvenil brasileiros já demonstram preocupação com esse aprofundamento do vínculo entre jovens e sistemas de IA. Apesar de muitos adolescentes verem os chatbots como meras ferramentas, cerca de um terço deles já estabeleceu uma relação mais intensa, confidenciando questões importantes ou buscando suporte emocional em momentos difíceis, como no luto por um animal de estimação ou na dúvida sobre o futuro. Este fenômeno é nomeado como “intimidade artificial” e traz debates sobre o desenvolvimento social saudável das próximas gerações brasileiras, que já equilibram vida online e offline entre tarefas escolares e festas juninas.
O envolvimento emocional com bots pode, segundo estudos especializados, modificar o modo como adolescentes experimentam a amizade e as relações humanas. No Brasil, onde a hospitalidade e o convívio presencial são culturalmente muito valorizados, a facilidade de acesso à IA, que lembra conversas anteriores e adapta respostas, pode criar uma sensação de compreensão e acolhimento, mesmo que debaixo de um pé de ipê ou deitado numa rede olhando o cerrado ao longe, ainda que não exista um ser humano do outro lado. Com a chegada de IA cada vez mais sofisticadas ao país, inclusive em português brasileiro e com gírias locais, esses impactos ganham novos contornos no contexto do aprendizado e da saúde mental.

Por que tantos adolescentes estão preferindo conversar com bots?
A busca por apoio emocional ou compreensão sem julgamentos talvez explique parte dessa preferência entre jovens brasileiros. Em um país de dimensões continentais, onde o isolamento geográfico ou a necessidade de privacidade podem ser reais, a IA apresenta uma alternativa: respostas imediatas, escuta de questões pessoais e a possibilidade de testar ideias, emoções e comportamentos sem medo de exposição ou fofoca. Esse padrão é mais frequente entre adolescentes que vivenciam estresse, alterações emocionais ou enfrentam desafios nas suas redes de apoio social reais, inclusive em cidades pequenas ou nas grandes capitais. Além disso, muitos jovens brasileiros relatam sentir maior liberdade para abordar temas sensíveis, já que não há o risco de julgamento ou espalhamento de segredos entre conhecidos do bairro ou da escola.
- Disponibilidade e acesso 24 horas por dia, mesmo em noites quentes, debaixo das estrelas do cerrado ou com o canto dos grilos ao fundo.
- Ausência de crítica ou vergonha ao compartilhar sentimentos, algo importante numa cultura ainda permeada por tabus em relação à saúde mental.
- Sentimento de controle sobre a interação, com a possibilidade de encerrar ou retomar conversas quando quiser, assim como desligar o wi-fi da varanda.
- Oportunidade de praticar habilidades sociais, resolver conflitos simulados e até brincar de imaginar cenários dentro da diversidade da cultura brasileira.
Contudo, psicólogos e especialistas do país alertam que a preferência por interações digitais pode atrapalhar a criação e manutenção de laços afetivos reais, dificultando o desenvolvimento de competências sociais importantes para quem vai enfrentar a vida adulta, seja numa cidade grande, numa vila litorânea ou numa comunidade ribeirinha.

Quais são os riscos do apego emocional a bots de IA?
Apesar de proporcionar distração e companhia, aplicativos de IA e assistentes virtuais não substituem a riqueza e complexidade humana, que se vê em um abraço apertado, num bate-papo na calçada ou numa roda de conversa ao redor da fogueira. Dados do estudo mostram que aproximadamente um terço dos adolescentes já se sentiu desconfortável diante de respostas inadequadas, orientações duvidosas ou até conteúdos impróprios fornecidos por IA, inclusive em português.
- Risco de exposição a conselhos prejudiciais ou informações erradas.
- Possível comprometimento do desenvolvimento empático, já que a IA não sente emoções de verdade – algo tão valorizado na cultura calorosa brasileira.
- Adolescentes em situação de vulnerabilidade social, presentes em diversas regiões do Brasil, tendem a depender mais desses vínculos artificiais, ficando ainda mais isolados em relação ao convívio presencial.
- Chance de contato com conteúdos sensíveis ou que não combinam com a fase de vida, independentemente se moram perto da Floresta Amazônica ou no Pantanal.
Com o avanço dos recursos tecnológicos, como memória personalizada dos assistentes de IA já lançados no Brasil, cresce o potencial de aproximação emocional. Isso reforça a necessidade de acompanhamento próximo por parte de famílias, professores e educadores, investindo no uso crítico e equilibrado entre as ferramentas digitais e as experiências offline, como um passeio no parque, uma conversa embaixo de uma mangueira ou uma visita ao museu da cidade.
À medida que empresas e startups nacionais apostam em assistentes virtuais cada vez mais realistas e empáticos, os desafios para o desenvolvimento saudável dos adolescentes brasileiros também aumentam. O debate precisa crescer junto à sociedade, promovendo conversas abertas sobre limites dessas interações e valorizando os vínculos sociais reais, tão parte da identidade do Brasil e que florescem nos encontros regados a afeto e diversidade.