O interesse pelas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) tem crescido notavelmente entre os apreciadores da culinária brasileira. Essas espécies, antes pouco conhecidas ou vistas como plantas comuns de quintal, agora encontram espaço em jardins urbanos, hortas domésticas e até na alta gastronomia. As PANC vêm se destacando pelo valor nutricional e pelas possibilidades criativas no preparo de pratos variados, sendo um verdadeiro resgate de práticas alimentares tradicionais de diferentes regiões do Brasil.
Historicamente, centenas de plantas com potencial alimentício são encontradas no Brasil. Por conta da imensa biodiversidade dos nossos biomas, como Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Amazônia –, muitas dessas plantas cresceram naturalmente em solos brasileiros, adaptando-se ao nosso clima tropical, subtropical e até semiárido. Apesar de o termo PANC ser recente, o uso dessas plantas, muitas vezes espontâneas, remonta a gerações anteriores, especialmente na cultura popular do interior do país e de comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Hoje já se conhece que há milhares de espécies comestíveis, e a pesquisa continua expandindo esse repertório. Além de enriquecer a dieta, as PANC promovem a biodiversidade e oferecem novos sabores e texturas às refeições.
Quais são as principais PANC e por que utilizar?
Entre as espécies mais populares destacam-se a Ora-pro-nóbis, a Taioba, a Beldroega, o Peixinho da Horta e a Capuchinha. Todas essas espécies estão amplamente adaptadas ao solo e ao clima brasileiros, sendo plantadas tanto em casas, quanto em sítios e até áreas urbanas. Cada uma possui um perfil nutricional diferenciado, agregando, por exemplo, fibras, proteínas vegetais, ferro e antioxidantes à alimentação diária. Algumas delas, como a Capuchinha, ainda contribuem visualmente, com flores coloridas que podem ser usadas em saladas ou como decoração de pratos.
O cultivo dessas plantas tende a ser simples, pois muitas nascem espontaneamente em jardins e canteiros. Outros exemplos, como o Hibisco e o Peixinho da Horta, requerem apenas recipientes adequados, exposição solar direta, solo fértil e irrigação equilibrada, condições, na maioria das vezes, facilmente encontradas no clima brasileiro. A inclusão das PANC no cardápio é uma forma de diversificar a alimentação, explorar novos sabores e potencializar os benefícios para a saúde sem grandes complexidades.
Além das citadas, há outras PANC relevantes, como a vinagreira (muito usada no Maranhão em pratos como o arroz de cuxá), o dente-de-leão e a serralha, cujos usos gastronômicos e benefícios nutricionais vêm ganhando destaque em publicações recentes, em eventos como a Semana Nacional da Alimentação e entre chefs preocupados com uma alimentação sustentável. Em várias regiões do Nordeste, plantas como a macaxeira-barriga-de-velho e a moringa também fazem parte do repertório tradicional.

Como cultivar e consumir as panc com segurança?
No momento de iniciar um cultivo, um dos pontos mais relevantes é garantir a identificação correta das espécies. O uso de mudas ou sementes provenientes de fornecedores confiáveis é fundamental para evitar acidentes alimentares. Dependendo da planta, pode ser necessário algum tipo de preparo, como no caso da Taioba, cujas folhas precisam ser cozidas para eliminar substâncias tóxicas presentes naturalmente.
- Identificação segura: certifique-se de que a planta corresponde exatamente à espécie desejada antes de consumir.
- Procedência das mudas: privilegie viveiros especializados ou produtores conhecidos.
- Preparo adequado: verifique se a PANC exige cozimento ou outro processo antes do consumo.
- Rotação de variedades: aproveite a diversidade das PANC alternando espécies nas suas receitas.
Além das folhas, flores e caules podem ser incorporados em receitas variadas, ampliando as opções culinárias. O Peixinho da Horta, por exemplo, é muito utilizado em empanados, especialmente em estados como Minas Gerais. Já a Salsa Libanesa pode substituir a salsa tradicional em pratos quentes e frios. Existem aplicativos e guias visuais, como o PlantNet e o Flora do Brasil, que auxiliam na identificação das espécies, tornando o cultivo doméstico ainda mais seguro. Muitas das informações sobre cultivo e usos também são compartilhadas oralmente em feiras, comunidades e oficinas de alimentação por todo o Brasil.
Como plantar Taioba em casa
A taioba é uma das PANC mais apreciadas pela versatilidade na cozinha e pela rusticidade no cultivo. Suas folhas grandes e verdes são altamente nutritivas, mas só podem ser consumidas após o cozimento. Veja como cultivar:
1. Escolha do local:
A taioba gosta de solos úmidos e férteis. Pode ser cultivada tanto em hortas no quintal quanto em vasos grandes, desde que tenha boa drenagem e mantenha a terra sempre úmida. Prefira locais de meia-sombra ou sol pleno.
2. Preparo do solo:
Adube a terra com matéria orgânica, como esterco curtido ou composto. O solo deve ser rico e fofo, facilitando o crescimento das raízes e rizomas.
3. Plantio:
O cultivo é feito a partir de mudas ou rizomas (partes da raiz). Enterre o rizoma deitado, cobrindo com 5 a 10 cm de terra. Regue bem após o plantio.
4. Cuidados durante o crescimento:
Mantenha a irrigação frequente, principalmente em períodos de seca. Retire matos ao redor para evitar competição de nutrientes. A planta cresce rápido e pode chegar a 1,5 m de altura.
5. Colheita:
As folhas podem ser colhidas a partir de 2 a 3 meses após o plantio. Sempre corte as folhas mais externas, permitindo que o miolo continue emitindo novas brotações.
6. Consumo seguro:
É essencial cozinhar as folhas antes de comer, pois o cozimento elimina cristais de oxalato de cálcio, que podem causar irritações se ingeridos crus.
Com esses cuidados simples, é possível manter uma taiobeira produtiva durante boa parte do ano, garantindo folhas frescas, nutritivas e saborosas para diversas receitas.

Quais os principais benefícios de inserir panc na alimentação?
O consumo de PANC amplia o acesso a nutrientes pouco explorados, devido ao uso restrito da maioria das hortaliças nas grandes cidades. Espécies como a Ora-pro-nóbis são ricas em fibras, aminoácidos essenciais, minerais e vitaminas. Muitos atletas e adeptos do vegetarianismo valorizam a presença dessas plantas em suas dietas diárias, já que entregam fontes alternativas de proteína vegetal, vitamina C, manganês e ferro.
- Incremento de nutrientes essenciais;
- Fortalecimento do sistema imunológico;
- Poder antioxidante e anti-inflamatório, como observado em flores comestíveis;
- Redução de anemia por meio de ferro e vitamina C disponíveis em espécies específicas;
- Variedade e criatividade no preparo de pratos, tornando as refeições mais interessantes.
Flores como a Capuchinha, Cravina e Begônia também são exemplos de PANC que, além de enriquecerem a apresentação da comida, oferecem benefícios à saúde devido à presença de flavonoides e outros fitonutrientes. Várias dessas flores são encontradas facilmente nos quintais brasileiros e até em áreas urbanas, tornando seu uso acessível para diferentes famílias. Com isso, o hábito de incluir essas espécies se mostra vantajoso tanto do ponto de vista ornamental quanto nutricional.
Como as panc podem transformar jardins e culinária?
A adoção das Plantas Alimentícias Não Convencionais transforma jardins comuns em verdadeiros espaços funcionais e ornamentais. Muitas dessas espécies são notavelmente belas quando floridas, como ocorre com o Hibisco, com suas flores chamativas, e a Ora-pro-nóbis, que serve de cerca viva em muitos quintais mineiros. Assim, além de servirem como alimento, funcionam como elemento de paisagismo, conferindo vitalidade e cor ao ambiente.
O movimento de valorização das PANC reflete uma tendência crescente de busca por alimentação mais saudável e diversificada, aliando o respeito ao meio ambiente à redescoberta de sabores tradicionais do Brasil. O potencial dessas plantas como protagonistas em receitas cotidianas é amplo, seja para quem cultiva no próprio quintal ou opta por comprá-las em feiras especializadas. Dessa maneira, integrar PANC à rotina é uma escolha sustentável e cheia de possibilidades culinárias, fortemente ligada à realidade brasileira de clima favorável ao cultivo o ano inteiro e com raízes culturais diversas que valorizam o que é local e regional.
