Em diversos momentos do convívio com cães, é comum perceber mudanças no comportamento, especialmente quando o animal parece não responder a comandos. Esse tipo de atitude pode gerar dúvidas sobre as razões que levam um cachorro a parecer ignorar seu tutor, levantando questionamentos sobre desobediência, saúde, ou falta de interesse. Contudo, ao analisar o funcionamento do cérebro canino, surgem explicações respaldadas pela ciência que esclarecem o que realmente está acontecendo nessas situações. Grandes centros urbanos brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro, têm registrado aumento nesses relatos devido ao excesso de estímulos no ambiente, como o barulho típico das cidades, buzinas, obras e até os sons dos passarinhos típicos da Mata Atlântica ou os ventos das áreas arborizadas com ipês e quaresmeiras.
Entre as explicações voltadas ao comportamento dos cães, destaca-se a influência de dois sistemas cerebrais principais: o neocórtex, associado ao pensamento racional, e o sistema límbico, ligado às emoções. Este entendimento ajuda a compreender porque, em determinados contextos, o animal simplesmente não consegue responder aos estímulos externos ou aos chamados do cuidador, mesmo sem nenhum tipo de intenção negativa.
O que faz o cão não responder aos comandos?
A palavra-chave central dessa discussão é o comportamento do cachorro diante dos comandos recebidos. Quando o animal está relaxado e em um ambiente seguro, como dentro de casa, o neocórtex entra em ação, permitindo que ele compreenda e siga instruções com maior facilidade. Entretanto, cenários que provocam medo, ansiedade ou um excesso de estímulos ocasionam a ativação do sistema límbico, que domina as ações, colocando o animal em estado de alerta ou estresse.
Nesse estágio, o cão pode demonstrar sinais claros de bloqueio emocional, tornando impossível qualquer resposta racional. Isso explica por que um cachorro aparentemente atento se mostra desconectado quando há barulho excessivo, presença de desconhecidos ou movimentações atípicas ao redor, comuns em cidades grandes ou até mesmo durante um passeio em parques urbanos brasileiros sob o calor do verão. Além disso, condições médicas, como dores ou problemas auditivos, também podem impactar a resposta aos comandos, sendo importante sempre considerar o bem-estar físico do animal. Em 2023, um levantamento realizado apontou que mais da metade dos tutores nas grandes cidades relataram dificuldade dos cães em ambientes públicos barulhentos.

Quais sinais mostram que o cachorro está emocionalmente bloqueado?
Para identificar se o cão está sob influência do sistema límbico, alguns comportamentos são observados com frequência. Entre eles estão:
- Piscar com maior intensidade do que o normal.
- Permanecer imóvel repentinamente.
- Lamber-se de forma repetitiva, mesmo sem ter ingerido algo.
- Desviar o olhar e evitar contato visual direto com o tutor.
Esses sinais demonstram que o animal não está sendo propositalmente desobediente, mas sim dominado por emoções que dificultam qualquer aprendizado ou escuta naquele exato momento. Outros sinais, como respiração ofegante, que pode se intensificar devido ao calor típico do Brasil, principalmente em regiões como o Nordeste durante os meses mais quentes, orelhas para trás ou cauda entre as pernas, podem também indicar um bloqueio emocional significativo. Cães de grandes cidades, que passeiam em calçadas quentes ou entre praças arborizadas com jambeiros e pitangueiras, costumam apresentar esses sinais com mais frequência, segundo estudo da Universidade de São Paulo.
Como agir quando o cachorro parece ignorar o tutor?
Quando se nota que o animal de estimação está em estado de bloqueio emocional, especialistas indicam interromper a insistência em comandos ou broncas. O mais adequado é fazer uma breve pausa, observar o quadro e permitir que o cão recupere a calma. Isso pode incluir levar o cachorro para um local mais calmo, como debaixo de uma sombra de árvore típica, por exemplo, uma gameleira ou um flamboyant, caso estejam ao ar livre. Dessa forma, respeita-se o tempo do animal enquanto se torna possível fortalecer a relação de confiança entre tutor e cachorro.
- Evite gritar ou aumentar a cobrança por obediência.
- Dê espaço para o cão se acalmar.
- Observe atentamente os sinais corporais do pet.
- Reforce o vínculo por meio de atitudes positivas e respeito às emoções do animal.
Esta abordagem pode melhorar significativamente a convivência, tornar os treinamentos mais eficazes e contribuir para o bem-estar do cão. Para casos frequentes, buscar a orientação de um profissional em comportamento animal pode ser fundamental. Plataformas digitais como o Instagram e o YouTube oferecem conteúdos de especialistas brasileiros que podem auxiliar no entendimento do comportamento canino, muitos deles abordando situações do dia a dia típicas das cidades e paisagens do Brasil.

Ignorar comandos é um ato intencional do cachorro?
Apesar de parecer que o cão ignora por vontade própria, o que se nota é um reflexo natural do corpo diante de situações que provocam ansiedade ou medo. O animal entra em um tipo de “curto-circuito” cerebral, no qual não tem capacidade de reagir racionalmente a estímulos ou comandos. Assim, compreender essa dinâmica contribui para um convívio mais harmonioso e menos frustrante para as duas partes.
Em resumo, quando um cachorro não atende a um chamado ou parece alheio ao ambiente, existem razões neurobiológicas envolvidas, e não atitudes de rebeldia. Reconhecer isso permite que os cuidadores ofereçam ao animal o suporte adequado para que ele se sinta seguro e compreendido nas diversas situações do cotidiano brasileiro, levando em consideração aspectos como clima quente, férias escolares, festas populares e até fogos de artifício em datas comemorativas. Dados da última edição do Congresso Brasileiro de Etologia destacaram a importância de campanhas de conscientização para tutores em todo o Brasil, reforçando o respeito ao bem-estar e às emoções dos cães de acordo com a nossa cultura.
