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Crianças no celular durante refeições, veja os riscos e como lidar

No cenário atual brasileiro, o uso de dispositivos eletrônicos já se tornou parte do cotidiano, inclusive para crianças de faixas etárias bastante baixas. É cada vez mais comum observar meninos e meninas distraídos com celulares ou tablets durante refeições em espaços públicos, como restaurantes, lanchonetes e até mesmo quiosques em praças e locais abertos próximos à natureza, como parques com árvores nativas, sombra de mangueiras ou até sob ipês floridos. Esse comportamento vem despertando a atenção de estudiosos, principalmente pelo impacto que pode ter sobre os hábitos familiares e a saúde das crianças em nossa realidade tropical e multicultural.

Pesquisas recentes desenvolvidas em Barcelona, e também correlacionadas com estudos brasileiros conduzidos em capitais como São Paulo, Recife e Porto Alegre, apontam que quase um terço das crianças entre quatro e dez anos faz uso do celular em estabelecimentos de alimentação, seja antes, durante ou logo após a refeição. Situações de ambientes barulhentos, filas longas e excesso de estímulos visuais, especialmente em redes de fast-food muito populares nos centros urbanos, contribuem para que adultos recorram ao aparelho como ferramenta para distrair, acalmar ou manter os pequenos ocupados enquanto se alimentam. Em festas e restaurantes ao ar livre, mesmo com a presença do verde das jabuticabeiras ou das flores de manacá, as telas acabam sendo uma solução rápida para os pais.

O que motiva o uso do celular por crianças em restaurantes?

Entre os principais fatores que explicam a popularização do celular como “babá digital” estão as dificuldades dos adultos em manter o interesse das crianças em ambientes agitados. Quando a interação entre adultos e crianças é reduzida, aumenta significativamente a chance de que um dispositivo eletrônico seja oferecido para entreter o menor. Dados do estudo revelam que, quanto menos diálogo ocorre na mesa, maior a probabilidade de uma tela ser acionada, chegando a um aumento próximo de 60% no uso de celulares nessas situações.

Outro ponto ressaltado é a idade das crianças. A pesquisa mostra que meninos e meninas de sete a dez anos utilizam mais o celular durante as refeições, assim como aquelas crianças que apresentam comportamento mais inquieto. Essa tendência também se intensifica em famílias nas quais os responsáveis são mais jovens, especialmente quando o adulto tem menos de 30 anos, indicando uma familiarização precoce dos próprios pais com as tecnologias digitais. No contexto brasileiro, observa-se ainda que famílias urbanas, especialmente nas grandes cidades onde trânsito, insegurança e rotinas corridas limitam opções de lazer, tendem a recorrer mais ao celular nessas situações.

Crianças no celular durante refeições, veja os riscos e como lidar
criança comendo em cozinha – Créditos: depositphotos.com / AlexLipa

Quais são as consequências do uso do celular durante as refeições?

A utilização de dispositivos móveis durante o momento da alimentação pode provocar uma série de efeitos indesejados. Entre eles, destaca-se a perda de oportunidades de interação e fortalecimento dos vínculos familiares à mesa, que são essenciais para o desenvolvimento emocional e social. Além disso, a atenção dispersa causada pelas telas faz com que as crianças comam sem perceber o que estão ingerindo, o que pode acarretar consumo elevado de calorias, aumentando o risco de desenvolver sobrepeso ou obesidade, desafios crescentes no Brasil, onde a oferta de alimentos ultraprocessados é cada vez maior, mesmo em regiões tradicionalmente ligadas à alimentação natural como o Nordeste ou o Centro-Oeste.

  • Redução do prazer pela comida: A distração ao celular reduz o contato com aromas e sabores dos alimentos típicos brasileiros, como um arroz com feijão fresquinho, uma moqueca ou um pão de queijo recém-saído do forno.
  • Exposição a propagandas: Crianças são impactadas por anúncios de alimentos ultraprocessados e menos saudáveis nos aplicativos e vídeos acessados, muitas vezes com apelo a produtos vendidos em grandes redes ou supermercados presentes em todo o país.
  • Alteração da saciedade: O tempo de tela pode levar a uma alimentação automática, dificultando o reconhecimento de quando estão satisfeitos, inclusive diante de pratos que carregam a riqueza da culinária brasileira, feita de mandioca, milho, frutas tropicais como açaí e manga.

Esses fatores evidenciam a necessidade de repensar o papel dos eletrônicos nos hábitos alimentares infantis e na dinâmica familiar durante as refeições. Alguns especialistas ainda alertam para potenciais impactos no comportamento alimentar das crianças a longo prazo, incluindo uma maior propensão ao consumo emocional e dificuldades futuras em manter uma alimentação equilibrada.

Como promover refeições mais saudáveis, sem o uso excessivo de telas?

A presença do celular à mesa não precisa ser encarada como um problema sem solução, mas como um aspecto que deve ser equilibrado. Especialistas recomendam o estabelecimento de regras claras, como reservar o tempo das refeições para conversas e trocas entre adultos e crianças, evitando o uso de celulares e tablets nesse período. O momento pode ser enriquecido com histórias brasileiras, como as lendas do Saci ou do Curupira, valorizando a oralidade e a cultura local.

  1. Buscar alternativas de entretenimento: Restaurantes que oferecem brinquedos, folhas para colorir com desenhos, conseguem reduzir significativamente o uso de dispositivos eletrônicos.
  2. Estimular a conversa: Adultos podem aproveitar esse momento para dialogar, contar histórias sobre suas próprias infâncias em diferentes regiões brasileiras ou perguntar sobre o dia da criança, incentivando a participação de todos.
  3. Definir limites para o uso das telas: Combinar horários e situações específicas para o uso do celular demonstra que o aparelho pode ser, sim, parte do dia a dia, mas com equilíbrio e respeito aos momentos de convivência, até na sombra de uma árvore ou durante um piquenique.
  4. Valorizar o exemplo: Quando os próprios adultos mantêm distância dos celulares durante as refeições, favorecem o desenvolvimento de hábitos mais saudáveis nos filhos e ajudam a criar memórias agradáveis de refeições partilhadas, seja em casa, no quintal ou em algum restaurante na orla de uma praia brasileira.

Adotar medidas como essas pode minimizar o impacto dos dispositivos eletrônicos na alimentação, tornando os encontros à mesa momentos mais ricos em interação e aprendizados. Outra sugestão de especialistas é envolver as crianças nas escolhas alimentares e no preparo das refeições, valorizando receitas de família, ingredientes regionais e plantas alimentícias não convencionais (PANCs), despertando o interesse pela comida e pelo momento compartilhado em família.

Crianças no celular durante refeições, veja os riscos e como lidar
criança comendo com tablet – Créditos: depositphotos.com / sharafmaksumov

Existe um papel para o restaurante nesse contexto?

Os estabelecimentos comerciais também têm possibilidade de atuar de forma positiva nessa questão. Locais que fornecem opções de lazer não digitais, como brinquedos de madeira, jogos de tabuleiro, amarelinha ou espaços com contato com a natureza, como hortinhas ou recantos de brincar sob árvores típicas como pau-brasil ou jatobá, identificam queda evidente no uso do celular por parte das crianças. Além disso, a criação de espaços voltados para o público infantil, com atividades e dinâmicas que estimulem a criatividade, a valorização da cultura popular, do folclore e a socialização, são estratégias benéficas tanto para os pequenos quanto para as famílias.

Com a rotina cada vez mais conectada, buscar o equilíbrio entre tecnologia e convivência presencial é um desafio real. Utilizar momentos como as refeições para fortalecer laços familiares e adotar hábitos alimentares mais conscientes, em sintonia com o clima, a cultura e os sabores do Brasil, pode contribuir significativamente para o desenvolvimento saudável e o bem-estar das próximas gerações.

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mãe e filha comendo juntas – Créditos: depositphotos.com / IgorVetushko
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