A multiplicação da cameleira é um tema que interessa muitos amantes da jardinagem e da botânica no Brasil, seja pela exuberância das suas flores ou pelo desafio de adaptá-la ao nosso clima e ecossistemas. Por aqui, a camélia, que encanta jardins de norte a sul, pode ser reproduzida tanto por sementes quanto por métodos vegetativos, cada qual com vantagens e desvantagens no contexto do nosso país. Entender as melhores práticas de multiplicação desse arbusto permite cultivar exemplares mais resistentes e com flores de formas e cores que agradam ao público brasileiro.
Ao optar pela produção via sementes, o processo envolve a fertilização dos óvulos, que pode acontecer na própria flor ou entre plantas diferentes, mas geralmente resulta em plantas com alto grau de variação e normalmente com valor ornamental menor. Já os métodos vegetativos, bastante adotados em viveiros brasileiros de plantas ornamentais, como estacaria, enxertia e alporquia, garantem mudas iguais à planta-mãe, preservando características importantes. Isso é relevante, por exemplo, para manter camélias de floradas brancas, símbolo histórico do abolicionismo no Brasil, ou outras de cores apreciadas. No Brasil, cidades como Nova Friburgo (RJ), Joinville (SC) e São Paulo (SP) possuem tradição no cultivo, aprimorando essas técnicas regionalmente.
Como funciona a propagação da cameleira?
O cultivo da cameleira pode ser realizado por duas vias principais: sexual e assexual. Na primeira, a multiplicação ocorre por sementes formadas após a polinização, seja por insetos da fauna local (como abelhas nativas) ou por ação do vento. No Brasil, assim como em outros países, este método é menos utilizado comercialmente, pois a camélia apresenta muita variabilidade genética e as mudas demoram usualmente de seis a sete anos para florescer, um período longo considerando o clima tropical e subtropical, onde outras espécies podem florescer mais rapidamente.
A alternativa mais procurada por produtores e colecionadores do Brasil é a propagação vegetativa. Aqui, são comuns a estacaria, mergulhia, enxertia e, em viveiros especializados, a micropropagação (cultura de tecidos em laboratório). Isso garante a manutenção de plantas selecionadas que respondem bem ao solo ácido e úmido de regiões como Serra Gaúcha, Zona da Mata Mineira e litoral do Sudeste. A Camellia japonica vai bem por estacas, enquanto variedades de Camellia sasanqua ou Camellia reticulata frequentemente necessitam enxertia para resultados mais consistentes. Em laboratórios brasileiros, a micropropagação tem ampliado o acesso a raridades e facilitado o cultivo em jardins botânicos, como no Rio de Janeiro e Curitiba.

Quais fatores influenciam o sucesso da estacaria em cameleiras?
O método da estacaria se destaca na horticultura nacional, pois as mudas resultantes permanecem fiéis à matriz, desde o formato da folha ao padrão das florações. Para aumentar os índices de sucesso, alguns fatores devem ser levados em conta, ajustando prioridades conforme as condições do clima brasileiro.
- Época de coleta: Em geral, recomenda-se obter as estacas durante o final do inverno e início da primavera (junho a setembro nas regiões Sudeste e Sul), coincidindo com temperaturas mais amenas e menor estresse hídrico. No Norte e Nordeste, pode ser necessário adaptar o calendário conforme os períodos de menor intensidade solar e chuvas.
- Seleção do material: Use ramos saudáveis, preferencialmente de cultivares adaptadas ao calor e à umidade locais, como algumas introduzidas por imigrantes japoneses e europeus ao longo do século XX no Brasil.
- Substrato: Substratos minerais como areia grossa (areão) e perlita funcionam bem, principalmente quando misturados à casca de pinus ou fibra de coco, facilmente encontrados no comércio nacional. Estas misturas evitam doenças fúngicas, comuns em ambientes úmidos do Brasil, e permitem boa drenagem.
- Temperatura e umidade: O sucesso aumenta quando a estufa ou o ambiente fica em torno de 25°C a 28°C e umidade entre 60% e 80%. No inverno das cidades do Sul brasileiro, pode ser necessário usar estufas aquecidas para garantir essas condições, enquanto no Norte e Nordeste bastam telados sombreados e irrigação controlada.
- Aplicação de hormônios: Use hormônios enraizadores (auxinas), facilmente encontrados em casas de jardinagem do Brasil para acelerar o enraizamento, lembrando de seguir as recomendações do fabricante para o clima local.
Como preparar estacas de camélia passo a passo?
Ao iniciar o processo no Brasil, recomenda-se coletar, logo cedo, segmentos de 8 a 12 centímetros, com um ou dois pares de folhas na ponta, vindos de ramos robustos e bem adaptados ao clima regional. Faça o corte em bisel (diagonal), logo abaixo de um nó, facilitando a absorção de hormônios e a emissão de raízes rapidamente.
- Reduza a área de cada folha, cortando de um terço a metade, evitando perda excessiva de água, especialmente relevante em regiões muito quentes.
- Mergulhe a base da estaca em solução fungicida nacional apropriada por cinco minutos, depois deixe secar ao ar.
- Aplique hormônio enraizador, disponível em lojas agrícolas brasileiras.
- Plante as estacas em substrato leve e bem drenado, protegido do sol forte (sombreamento com telas de 50% é recomendado em praticamente todo o território brasileiro).
- Mantenha o ambiente úmido, recorrendo a nebulizações ou irrigação fina e contínua. Em cidades frias como Curitiba ou Campos do Jordão, utilize estufas; já em regiões de maior calor, ambientes ventilados com boa umidade são suficientes.
O surgimento das raízes normalmente ocorre entre três e quatro meses, dependendo do clima e dos cuidados com a irrigação. No Brasil, em períodos muito quentes ou secos, regas frequentes, porém leves, são mais eficientes. Brotações laterais podem aparecer antes do enraizamento estar consolidado, por isso é fundamental observar o sistema radicular antes do transplante final.

Por que optar pela propagação vegetativa em camélias?
O uso de métodos vegetativos traz grandes benefícios no Brasil, favorecendo tanto quem deseja jardins cheios de camélias floridas rapidamente quanto o produtor que visa o comércio de mudas. Além da redução do tempo até a floração, esses métodos permitem formar coleções com exemplares de flores brancas, vermelhas ou manchadas, valorizando eventos culturais e históricos ligados à camélia, como o simbolismo da flor na luta abolicionista brasileira e sua presença em festas regionais.
- Preservação de características apreciadas pelos brasileiros, como resistência ao calor e à umidade alta
- Florescimento precoce, ideal para atender paisagismo urbano e jardins domésticos
- Redução da variabilidade genética, garantindo padrões comerciais
- Possibilidade de multiplicação ao longo do ano, graças ao clima diversificado do país e à presença de estufas bem equipadas em viveiros brasileiros
Por fim, embora certas variedades exijam enxertia ou micropropagação para bom desenvolvimento em terras brasileiras, o acesso crescente à tecnologia agrícola, aliada à tradição de jardins botânicos como o do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belo Horizonte e do Rio Grande do Sul, amplia o potencial de cultivo de cameleiras em todos os biomas nacionais. O domínio dessas práticas fortalece a conservação da diversidade florística e o sucesso tanto em projetos paisagísticos quanto no cultivo familiar, mantendo viva a cultura e a paixão nacional por essa bela planta.
