Os gatos, mesmo vivendo em ambientes domésticos no Brasil, mantêm comportamentos herdados de seus ancestrais selvagens. Um dos hábitos mais curiosos é levar pequenas presas ou objetos para a cama de seus tutores. Isso pode acontecer tanto com alimentos quanto com brinquedos, despertando questionamentos sobre o que esse comportamento realmente representa.
No dia a dia dos lares brasileiros, são frequentes relatos de pessoas que encontram pequenos animais, como insetos (muitas vezes baratas ou grilos) ou pequenos roedores, trazidos pelos seus felinos para o quarto ou para a cama. Embora possa parecer estranho, esse ato está ligado a tendências naturais que surgem independentemente da vida confortável que o animal leva hoje. Vale lembrar que estudiosos de comportamento animal, como Jackson Galaxy, ressaltam que esse padrão é visto também em ambientes urbanos de grandes cidades, como São Paulo, Porto Alegre ou Rio de Janeiro, evidenciando a universalidade do comportamento mesmo sob o clima tropical, característico de grande parte do Brasil.
Por que os gatos levam presas para a cama dos tutores?
Esse hábito está conectado ao instinto de caça, profundamente enraizado nos gatos desde sua origem. Mesmo quando têm ração à vontade e não precisam se esforçar pela sobrevivência, esses animais costumam caçar pequenos seres vivos do ambiente brasileiro, como lagartixas e besouros, que entram facilmente em casas durante noites quentes e úmidas. Ao capturá-los, muitos gatos os levam até locais que consideram seguros e importantes, como a cama de quem os acolhe.
Em meio a esse comportamento, o animal pode estar reproduzindo padrões que, na natureza, seriam fundamentais para sua sobrevivência. A cama do tutor é vista como um território de confiança, onde ele se sente protegido para depositar aquilo que conseguiu capturar. Esse local, símbolo de segurança e convivência, se transforma, nas percepções do gato, em um espaço propício para compartilhar seus feitos. É interessante notar que, segundo observações da Universidade de Oxford, esse comportamento varia também conforme o ambiente onde o felino vive. No Brasil, onde áreas externas costumam ter jardins com espécies nativas como samambaias, quaresmeiras, jabuticabeiras e ipês, é comum os gatos explorarem esses espaços em busca de presas, reforçando suas tendências naturais.

Qual é o significado desse comportamento para o gato?
Além do forte instinto de caça, existe outro aspecto relevante: a ligação afetiva e de grupo que o felino desenvolve. Ao levar uma presa até o tutor, o gato não está necessariamente oferecendo um presente, mas sim compartilhando algo considerado de valor, como faria num grupo familiar.
- Instinto maternal: Gatas, especialmente as que já viveram a experiência da maternidade, podem repetir essa conduta com humanos, numa tentativa de ensinar ou cuidar, como fariam com seus filhotes naturais.
- Compartilhamento de território: O ato reforça o sentido de grupo, mostrando que o espaço é compartilhado e seguro para ambos.
- Ensino e proteção: Alguns estudos sugerem que levar a presa é uma forma de “mostrar” ao humano como conseguir alimento, reproduzindo comportamentos de educação comuns no mundo animal. Em pesquisas realizadas por especialistas como John Bradshaw, esse comportamento foi considerado uma demonstração complexa do instinto de socialização dos felinos.
Deixar presas na cama é também uma forma de marcar território?
O comportamento do gato não envolve só questões de alimentação ou afeto. Marcar território faz parte do instinto felino, e ao levar uma “conquista” para a cama, seu cheiro é deixado no ambiente e no objeto. Para o animal, essa prática indica propriedade sobre a área escolhida, criando um espaço marcado por sinais olfativos reconhecíveis por ele.
Na natureza, inclusive em biomas brasileiros como a Mata Atlântica ou o Cerrado, gatos delimitam seus ambientes de maneiras variadas, seja por urina, arranhaduras em troncos de árvores típicas como o jatobá ou deixando itens de caça. Dentro de casa, esse tipo de demarcação é adaptado aos espaços de convívio, como camas ou sofás, que acabam acumulando sinais sutis da presença felina. Estudos publicados na Behavioural Processes em 2019 destacam que marcar território é parte inseparável da comunicação dos gatos domésticos.
- Ao marcar território, transmitem ao grupo que aquele é um local protegido por eles.
- Esse processo ajuda a manter outros animais afastados e reforça laços com quem divide o espaço.
- Marcas de cheiro são formas de comunicação, indicando status e limites para outros pets domésticos.

Como os tutores podem lidar com esse comportamento?
Entender que esse ato está ligado aos instintos e à socialização do gato pode ajudar a evitar interpretações equivocadas. Em vez de repreender o animal, é recomendado reforçar caminhos seguros para o exercício da caça, como brinquedos interativos ou objetos próprios para morder e carregar, inclusive aqueles vendidos por marcas brasileiras reconhecidas, como a Chalesco e a Pet Games.
Outra medida é garantir que portas e janelas estejam bem protegidas, evitando o acesso de presas vivas comuns na fauna urbana, como lagartixas, besouros e outros insetos do nosso clima tropical, para dentro de casa. Caso o comportamento cause desconforto, recomenda-se propor atividades diárias que simulem a caça sem envolver animais reais, mantendo o felino ativo e estimulado.
- Disponibilizar brinquedos que imitam movimentos de presas brasileiras, como penas de aves típicas ou brinquedos em formato de insetos coloridos.
- Criar ambientes com áreas de exploração e esconderijos, usando até caixas de papelão e elementos naturais encontrados na flora local, como galhos de árvores não-tóxicas.
- Manter uma rotina de brincadeiras programadas, aplicativos, como o Cat Alone, podem ser aliados nesse processo.
- Evitar punições, focando sempre no redirecionamento do comportamento natural.
Observar os hábitos dos gatos proporciona informações valiosas para melhorar a convivência e compreender as necessidades desses animais. Ao notar que trazem objetos ou pequenas presas para a cama, é possível entender esse gesto como uma expressão natural, respeitando os limites e particularidades da espécie. Compreender a realidade do clima, da flora e do ambiente brasileiro torna o cuidado com felinos mais harmonioso e atende tanto ao instinto como à convivência diária.
