A presença da erva-mate nas comunidades do Sul do Brasil é resultado de uma longa tradição em torno da planta, reconhecida pelo nome científico Ilex paraguariensis. Conhecida por originar bebidas como chimarrão e tereré, a erva-mate faz parte da economia regional e do cotidiano de inúmeras famílias. Antes de iniciar um cultivo, compreender os requisitos climáticos, de solo e técnicas para plantio faz toda diferença na obtenção de folhas de qualidade.
O ciclo da planta é extenso, com exemplares que vivem por décadas. Originária de áreas de altitude e floresta, a erva-mate se destaca pela adaptação ao clima temperado e ao manejo sustentável. Por essas razões, o Brasil concentra grande parte da produção mundial e exportação, especialmente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Como saber se o clima é adequado para a erva-mate?
A escolha da região para o plantio está ligada ao comportamento da planta diante do clima. O desenvolvimento mais eficiente ocorre onde as médias térmicas variam de 16°C a 24°C, em áreas com boa frequência de chuvas e umidade atmosférica elevada. A planta não se adapta bem a calor extremo ou a longos períodos secos, condições que limitam o crescimento e a produção das folhas. Como benefício extra, alguns produtores têm observado que áreas com leves ventilações frequentes, sem excesso de seca, favorecem o crescimento equilibrado das plantas.
Por se tratar de uma espécie nativa de sombra parcial, recomenda-se proteger as mudas jovens do sol intenso no início da formação. O sombreamento pode ser feito usando árvores de porte maior próximas ou telas apropriadas, favorecendo a formação do sistema radicular e a resistência das novas plantas.
Quais cuidados são necessários na preparação do solo para o plantio?
O solo para a cultura deve ser profundo, bem drenado e conter elevada quantidade de matéria orgânica. A preparação começa com análise química para ajustar a acidez, buscando o pH entre 5,5 e 6,5, além da incorporação de compostos naturais, como esterco curtido ou restos vegetais decompostos. Recomenda-se, além disso, avaliar o teor de micronutrientes, especialmente boro, zinco e manganês, necessários para a nutrição ideal da erva-mate.
A seguir, veja como preparar o terreno para semear ou transplantar mudas:
- Remover pedras, raízes e restos de culturas anteriores.
- Alterar a acidez conforme resultado da análise, aplicando calcário se necessário.
- Misturar matéria orgânica na cova de plantio para garantir boa nutrição nas fases iniciais.
- Atenção ao excesso de adubos químicos, que podem prejudicar o enraizamento.
É melhor plantar erva-mate por sementes ou por mudas?
O método mais tradicional para a propagação é por mudas, que garantem melhor pegamento e desenvolvimento inicial. Sementes da erva-mate apresentam germinação baixa e exigem tratamentos específicos como escarificação ou quebra de dormência, aumentando a complexidade desse método para o produtor iniciante. Pequenos viveiros especializados podem auxiliar nesse processo, garantindo mudas já adaptadas ao clima local.
Esses são os passos básicos ao optar pelo plantio de mudas:
- Selecionar mudas vigorosas, com cerca de 25 cm de altura e raízes aparentes saudáveis.
- Abrir covas de 30 cm em cada dimensão, enriquecidas com composto orgânico.
- Manter entre 3 e 4 metros de espaçamento entre as plantas para favorecer o crescimento e facilitar as atividades de manejo.
- Irrigar logo após o plantio, especialmente se houver estiagem, e reforçar periodicamente até o pleno estabelecimento das mudas.
O cultivo em vasos não é recomendado, pois a planta atinge grande porte e necessita de solo profundo para expressar vigor e produção de folhas.
Quando começa a produção e como é feita a colheita da erva-mate?
O início da colheita geralmente ocorre entre o terceiro e o quarto ano, quando a planta atinge um porte capaz de sustentar novas brotações. O ciclo de produção é perene, possibilitando colheitas anuais com manejo adequado e respeitando os intervalos para o rebrote saudável. Plantios bem manejados podem produzir por até 30 anos ou mais, dependendo das condições ambientais.
No processo tradicional, a colheita é realizada por meio de cortes das brotações mais jovens. Logo em seguida, as folhas são submetidas ao calor para interromper a fermentação, secas e trituradas, resultando na erva consumida em chimarrão e tereré. Recomenda-se colher no outono ou início do inverno, períodos ideais para garantir melhores características ao produto final. Algumas cooperativas ou indústrias na região apostam em métodos inovadores de secagem para garantir maior qualidade e manter os compostos funcionais da folha.
Como manter a saúde e produtividade da plantação?
A manutenção exige atenção a fatores como adubação, irrigação e controle de mato e pragas. O solo deve ser mantido levemente úmido, evitando encharcamentos frequentes. Capinas regulares em volta dos pés ajudam a reduzir a competição por nutrientes e o aparecimento de doenças. Além dos métodos tradicionais, o monitoramento por armadilhas e a rotação de culturas ao redor podem ajudar a prevenir infestações severas.
Levantando algumas ações de manejo:
- Adubar a cada quatro meses com composto ou fórmula NPK balanceada;
- Podar para formar copas que recebem luz uniforme, facilitando a colheita e estimulando novos ramos;
- Monitorar lagartas, brocas e fungos e, se necessário, empregar soluções naturais como óleo de neem;
- Sombrear as mudas na fase inicial e proteger de ventos fortes.
- Em regiões com histórico de geadas, principalmente no Paraná e em Santa Catarina, é vantajoso rastrear previsões meteorológicas para ajustar práticas como irrigação e cobertura do solo a fim de evitar danos às plantas jovens.
Quais são outros usos e benefícios da erva-mate?
Muito além das infusões típicas do chimarrão e do tereré, a erva-mate serve como ingrediente de bebidas geladas, energéticos naturais e cosméticos. Rica em compostos bioativos e cafeína, proporciona benefícios como ação antioxidante e melhora da disposição. O uso se estende ainda a refrigerantes e até extratos para fins medicinais e na indústria de higiene. Em pesquisas recentes, seus extratos também têm sido avaliados para uso como fonte de ingredientes para suplementação alimentar e para combater radicais livres, ampliando ainda mais seu leque de aplicações. No Rio Grande do Sul, muitos produtos locais já incluem a erva-mate em pães, bolos e suplementos, promovendo a valorização da cadeia produtiva regional.
Assim, o cultivo da erva-mate une um patrimônio cultural a práticas agrícolas sustentáveis, garantindo não só a bebida apreciada em rodas de conversa, mas também matéria-prima para outros produtos de alto valor funcional.
